sábado, 27 de outubro de 2007

Elogio do Amor Parvo... aquele, o Puro

Se existem coisas neste mundo que não são para se perceber bem, esta é uma delas. Este meu post vai ser confuso, vai soar confuso e, provavelmente vocês vão sentir-se confusos ao lê-lo. Se não se sentem com coragem para ler, o melhor é desistir já. Muito do que se vai seguir, é mesmo incompreensível. A culpa não é minha. Serei clara. O problema é que eu própria percebo muito pouco do que tenho para dizer. De qualquer das formas, sinto que tenho de dizê-lo.



O que eu quero é fazer um elogio ao amor puro. Às vezes penso que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver o amor platónico, o amor impossível. Quem é que aceita amar sem uma razão? Esquecem-se porém que o amor tem razões que a própria razão desconhece. Li, há muito tempo, num lugar qualquer, que um gajo do antigamente se meteu num navio para ir atrás de uma rapariga que não conhecia, com quem nunca tinha falado. Deu por ele em Inglaterra. Estava apaixonado, coitado! Quando conseguiu falar com ela, desiludiu-se. Quem é que hoje em dia é capaz de se apaixonar assim?



Agora as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas de trabalho e estão mesmo ali à mão de semear. Porque não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque traz dinheiro. Porque fica mais barato. Porque dá para comprar uma casa. Por causa da falta de sexo. Por causa da roupita e das contas do supermercado. Fazem-se contratos pré-nupciais, discute-se tudo de ante-mão, de quem é o carro, e o frigorífico, e o sofá da sala, fazem-se planos e à mínima merdice entra-se "em diálogo". Combina-se o amor. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se. Discutem situações. Tomam decisões. O amor, esse sentimento que devia ser desmedido, é na medida do possível. Resultado: as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam praticamente apaixonadas.



Estou já farta de conversas, farta de compreensões e entendimentos, farta das conveniências. Nunca vi namorados tão embrutecidos, cobardes e comodistas como os de hoje. São uma raça de telefoneiros e conversadores de msn, pessoal do "tá-se bem", "na descontra", matadores de romance... Será que já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza de morte, o medo, o carrossel emocional que leva ao desequilíbrio mental, o custo, o amor - essa doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta na alma e nos rebenta o peito de alegria e sofrimento, tudo ao mesmo tempo?

*****
Ainda que eu falasse
A língua dos anjos
Se não tivesse amor
Seria como um sino ruidoso
Ainda que tivesse o dom da profecia
O conhecimento de todos os mistérios
E de toda a ciência
Ainda que tivesse toda a fé
A ponto de transportar montanhas
Se não tivesse amor
Nada seria
O Amor é paciente
O Amor é prestativo
Tudo espera
Tudo suporta
O Amor jamais perecerá
As profecias desaparecerão
As línguas cessarão
A ciência também desaparecerá
Agora portanto permanecem
A fé, a esperança e o amor
A maior delas, porém
É o Amor
A maior delas, porém
É o Amor
Este poema não é de minha autoria; foi retirado da banda sonora de um filme - "3 cores: Azul", que acabei de ver há pouco... andava ali a rebolar na sala há imenso tempo, porque sou estúpida - se soubesse o que andava a perder, tinha visto há mais tempo.

16 comentários:

AmSilva® disse...

acredita que
amar a serio doi
amar a serio magoa
amar a serio faz doer
amar a serio é dificil
amar a serio não é impossivel
mas tambem acredita que
por amar a serio doi mais
por amar a serio magoa mais
por amar a serio faz doer ainda mais
por amar a serio é muito dificl
por amar a serio torna-se impossivel viver a serio

a quem o dizes isso de que já não amor a serio

Catarina Ferreira disse...

Olá. Ora bem eu começei a ler e não desisti hihi tava curiosa para ver o que estava no teu post de hoje.
É verdade acho que muitas pessoas hoje em dia ja nem sabem o que é amar. Já nem amam quanto mais. lOl pensam que é meia duzia de beijos, umas sms aqui e ali, umas conversas horas a fio no msn ja se conhecem a vida toda. Enfim...

Eu acho que soube bem o que é amar, lutei por isso, sinto-me veradeiramente apaixonada ( espero que não me engane hihih)
E já la vao 3 anos de amor verdadeiro :)
Aiaiai :p

Um beijinho e bom fim de semana*

Rui disse...

Excelente post! E como eu te percebo, embora eu repare que a sociedade hoje em dia funcione por esse trilho, considero-me com sorte para o não percorrer, mantenho uma relação que já vai para 3 anos(acho muito pouco) e que começou com poucas horas de conversa útil mais de 300km de distância, hoje vivemos juntos há já 2 anos e ultrapassamos grandes dificuldades o que nos torna uma equipa perfeita, somos imparáveis e indestrutíveis.

Convido-te a visitar o meu blog, gostaria de ter uma leitora com tu! ;)

http://blogpredilecto.blogspot.com

José Ceitil disse...

Sofia, este é um pequeno excerto do meu futuro livro:
"Amar é amar profundamente até chegar ao estado de pré-abandono acrítico da vontade própria aos ditames do outro e às consequências que a partir desse momento deixam de ter qualquer importância. Quando isso acontece, a auto-estima e mais o ego e a dita independência, que supostamente devia preservar e garantir-nos a lucidez e a autonomia, aniquilam-se e deixam-nos ao sabor dos gostos e às circunstâncias de vida da pessoa amada-objecto da nossa paixão a quem estamos voluntariamente submetidos porque passa a ser para nós, pobres apaixonados, a coisa mais importante e a única que interessa.
Todos os que escreveram sobre o amor já disseram isto, ou qualquer coisa parecida, o que significa que apesar de terem passado milhares de anos de reflexão e muito estudo sobre o assunto, ainda não se conseguiu perceber o mecanismo biológico ou psíquico, ou de qualquer outra natureza, que explique a razão deste mistério da paixão como estado de alma que nos anula e diminui, no sentido em que leva a comportamentos ridículos e para lá de irracionais, quando analisados à posteriori.
Ainda bem que é assim. Imaginem que alguém, algum dia, consegue decifrar este enigma e descobre o antídoto eficaz contra a paixão, esse “mal terrível” que nos causa tanta dor e sofrimento, e o coloca no mercado ou na farmácia em forma de comprimidos! Se isso acontecesse, o mundo talvez não acabasse mas seria muito diferente e perdia a graça toda".

Beijinhos

Cati disse...

Quanto ao poema, foi inspirado no capítulo 13 da 1ª epístola de S. Paulo aos Coríntios - se bem te lembras, foi a leitura que escolhi para a cerimónia do meu casamento...

«Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e
não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que
tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os
mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de
maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada
seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento
dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado,
se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente,
é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se
ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus
interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a
injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo
espera, tudo suporta.»

Este é o meu excerto favorito.
E escolhi-o porque eu acredito que o amor é mesmo assim. Tudo tolera, tudo crê, tudo suporta. Tu sabes que o meu amor tem sido posto à prova... mas o meu amor é como esse que elogias - parvo, mas puro!!!

Quando as pessoas se casam, é impossível continuar a viver o amor sem pragmatismo - porque as contas têm de ser pagas e as obrigações inerentes à vida a dois têm de ser cumpridas. Mas isso não significa que o amor, aquele puro, o original, o que começou no pátio da escola ou no cantinho daquele bar, tenha morrido. Cabe-nos a nós lutar para que não se torne esse marasmo internáutico que os adolescentes vivem hoje.

UM grande beijo para a minha grande escritora - és linda, e eu amo-te - de maneira pura.

S. disse...

Cati, hum... bem me parecia que havia partes do poema que me eram familiares... mas no filme são cantadas numa ópera em grego... eles só devem ter traduzido parte e não dizia de onde tinha sido retirado - portanto, temos gostos semelhantes - temos bom gosto!!! ;)

amsilva, obrigada pelo seu comentário tão sentido, nem todos são desse calibre, mas quando são, são de salutar.

Pedacinhos de 1 vida, continuação de muitos e bons anos de amor verdadeiro.

Rui Branco, parabéns por essa relação indestrutível, cuide bem dela para que assim continue.

Zé Ceitil, magnífica essa sua dissertação sobre o amor (esse livro que está para chegar, promete) e concordo em absoluto consigo quanto à catástrofe que seria inventarem comprimidos anti-paixão. Só não percebi pelo seu comentário se afinal gostou do meu texto...

AJO disse...

Interessante este seu texto... gostei muito. Muito bem escrito. A Cati tem razão em relação ao que escreve sobre o poema e foi também este o «poema» que foi lido na cerimónia do meu casamento... é lindo e diz tudo...
Tenho que ver esse filme
Bom fim-de-semana

A Professorinha disse...

Olha, estou como tu... também sinto falta desse amor...

Beijos

alfabeta disse...

Entendo perfeitamente o que queres dizer, não é por acaso que os casamentos dantes duravam a vida toda,hoje em dia é tudo a casar e descasar no dia seguinte com uma facilidade incrível, mas será que se amavam realmente?
Tem que haver cumplicidade, senão nada feito, todas as relações onde há cumplicidade duram muito mais.bjs

José Ceitil disse...

Gostar..., não é o termo adequado. Subscrevo!

Wolf disse...

concordo, hoje em dia ama-se muito com a cabeça e pouco com o coração.

Agora só te falta ver o Branco e o Vermelho, vale a pena.

Cada filme roda em torno de um tema:
Azul (liberdade), Branco (igualdade), Vermelho (fraternidade).

Sei lá... disse...

Embora não venha comentar o teu post... talvez o faça mais tarde (cof cof cof), aproveito este espacinho para deixar uma lembrança...

PARABÉNS LINDONAAAAAA!!!! ;)

beijo gigante!!!

S. disse...

Wolf, eu sei da trilogia... os outros também andam ali na sala à espera de um tempinho, mas comecei pelo que me disseram ser melhor... ;))

redjan disse...

sof: brutal .... de real !!!!!

Anónimo disse...

Obrigada pelos parabéns gazela!

Hélder disse...

Excelente post! Há bem pouco tempo escrevi um texto sobre o mesmo tópico.

Importas-te que faça um link no meu cantinho?

Beijinho.