sábado, 11 de outubro de 2008

hac__01_helder

Esta é a história de uma jovem mulher que sempre adorou o seu avô. O seu avô, senhor de já 82 anos, era um homem culto, viajado, dedicado à leitura, à poesia, à pintura, à música, de preferência clássica, com gosto por quebra-cabeças e tudo o que se lhe apresentasse em forma de desafio... enfim, um homem refinado e de bom gosto, com um ligeiro perfume de mistério a envolvê-lo - talvez isso fosse apenas devido à avançada idade... adiante! O seu avô fazia anos. Ela, coitada, há muitos anos lutava para lhe oferecer algo que ele gostasse e/ou precisasse genuinamente pelo seu aniversário. Sem qualquer resultado. O que lhe era acessível, não via como pudesse agradá-lo; o que não lhe era acessível... bom, não lhe era acessível e ponto final. Mas devia haver algo!, algo barato, ou que até nem se tivesse que se comprar que trouxesse felicidade ao coração do velhinho avô, e por conseguinte, ao da neta. Algo mais que um abraço ou um beijinho, está claro... isso fá-lo-ia feliz, mas ela queria algo que perdurasse. Mas o quê? O QUÊ? Ele possuia tudo quanto podia desejar... bom seria comprar-lhe mais uns 20 ou 30 anos de vida! ONDE? Não sabia... sentou-se ao computador e virou a internet do avesso. NADA! Então, numa cinzenta tarde de sábado, passou a vista por cima de um poeirento livro de alquimia, num velho alfarrabista. Comprou todos os ingredientes, deitou mãos à obra, estoirou com muitas tinas e penicos, mas, ao fim de uns dois ou 3 anos, conseguiu. Finalmente, um elixir de saúde! Endireitava os marrecos, punha coxos a correr, sanava quase todos os males, trazendo maior longevidade a quem o tomasse. Depois, no seu cérebro, acendeu-se uma sentelha de dúvida: Será que era aquilo o que o avozinho mais queria: viver até aos cento e tal? Ver perecer a esmagadora maioria dos que o rodeiam? Todos os seus amigos, a esposa, irmãos, irmãs, ex-colegas, vizinhos e conhecidos? Não estaria a enviá-lo sem querer para a pior das vidas? A pior das mortes? A solidão? Não!!!, resolveu-se subitamente. Ia dar-lhe tempo, mas não de vida. Ia dar-lhe tempo. TEMPO. Uma parte do seu tempo. Ia fazer-lhe companhia! Ouvir os seus discos e CDs, ver com ele os filmes de que ele gostava, ouvi-lo declamar poemas infinitos e ler-lhe quando os seus olhos não pudessem mais... Visitar com ele online, as galerias onde não tivera hipótese de ir, os monumentos que não pôde fotografar. Isso! Não custava nada! Só precisava de se desempregar!

 

Foto de Helder Capela em

http://helderalmeidacapela.blogspot.com/

11 comentários:

Cati disse...

Pois é... tanto tempo perdido a trabalhar, tão pouco ganho com os que amamos...

Que bonito este teu texto!

Um beijo*

Vítor disse...

Os nossos empregos deveriam ser esses: tomar conta dos nossos mais novos e mais velhos!

Clarice disse...

Temos que esticar o nosso(?) tempo e estar por perto dos mais velhos que ficam sempre um bocadinho esquecidos. E estar por perto não é só levar e trazer... é estar, é ouvir...

beijinho

Anónimo disse...

Lindooooooo!!!Simplesmente!!!

aespumadosdias disse...

Grande neta.
Infelizmente não há tempo...

Marisa disse...

Pois é o tempo é pouco. Mas o que importa é quando se arranja tempo ocupá-lo da melhor forma possivel :)

as velas ardem ate ao fim disse...

Raios partam o tempo!

um bjinho e uma boa semana

Casemiro dos Plásticos disse...

Bela história, realmente o tempo é cada vez menos...
beijo

.::rOcK_aNgEll::. disse...

Uma palavra: Adorei!:)

beijo gande!*****

miak disse...

Gostei muito do teu texto. Tenho saudades do meu avô.

João Moreira disse...

A maior prenda que se pode dar, seja a quem for é parte do nosso tempo e por vezes o custo é nulo e se for dado com o coração, é bem recebido com toda a certeza…
Gostei muito….