Naquela manhã acordei decidida. Comi mal e à pressa. Tomei um duche rápido. Vesti-me como quem não quer saber. Para onde ia, não importava. O que ia fazer era demasiado importante. Saí de casa esperançada. Se corresse, talvez ainda te apanhasse. E tinha tanto para te dizer. Tanto que precisava de te explicar.
Toquei-te à campainha. Ainda estavas em casa. Abriste e eu permaneci à porta, calada. Esqueci as palavras escolhidas pelo caminho. Esqueci o sorriso planeado para te agradar. Só sentia o calor dos teus olhos espantados em mim. O olhar fugiu-me para o chão, envergonhado por não saber o que fazer, com medo de revelar demais. Obriguei-o a voltar ao objecto do meu desejo e lá estavas tu ainda parado como quem não percebe.
Perguntei se podia entrar. Anuiste com a cabeça e dirigiste-te à sala, onde com o olhar fizeste sinal para que me sentasse. Sentei-me na poltrona à contra-luz, de costas para a alta e antiga janela do teu apartamento. Sei que assim ficava em vantagem. Não verias mais do que as sombras nos meus olhos. Sem perguntas, serviste-me uma bebida. Acendi um cigarro, puxei para mim o cinzeiro e levei o copo à boca. "Vim para te falar". Levantei-me nervosa, afastei o cortinado e soltei uma baforada de fumo pela janela aberta.
Avançaste para mim. Retiraste o copo da minha mão tocando com a tua ao de leve na minha. Dum só trago bebeste o que me havias oferecido. Com um dedo habilidoso a música começou a tocar. Arrancaste-me um sorriso tímido e dançámos. Dançámos como nunca o havíamos feito antes. Pelo menos eu nunca havia dançado assim, sem sentir o meu peso, sem consciência do meu corpo.
Depois paraste. Tudo parou. Só a música não. Já não estavámos na sala. Deitaste-me sobre o colchão, passeaste as tuas mãos por mim e amaste-me como quem dança. Abraçaste-me durante muito tempo. Tive que lutar para me soltar e poder tomar um banho.
Quando acabei, o bilhete na porta: "Não telefones. Não voltes. Não penses. Não"!
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Será?
Publicada por S. à(s) 16:33
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
15 comentários:
... "amaste-me como quem dança" ... lindo!
Hmmm... this sounds kind of familiar... Don't know why!!! Or do I?!?...
Perfeito... perfeito...
Mas tudo sempre pensa.
Tudo sempre volta.
Não há volta a dar!!!
(mas que m"##$%a de comentário... percebes?!?)
Big Kiss...
...e o som?!? Aiii...
Belíssimo, sofia.
....
E o teu comentário ao meu poema mereceu um comentário meu.
Como não? Não?...
Não penses...
Beijos
ainda bem que não comeste muito!
é perigoso para a digestão!
Depois de tanto, não? hummm
Beijo
Não? Mas que raio de mau feitio! Então estava a portar-se tão bem e tinha que se armar em parvo? Não terás gasto água a mais durante o banho?
ehehh!! Aquele abraço infernal!
Caraças....ó mulher....tu estás cada vez melhor mas não há uma vez em que a coisa acabe bem?! ;)
:P
BEIJOS
beber logo de manhã dá nisto.
mas isto é tipo iô-iô ?
vai e volta ?
ps : é justo dizer que o teu relato é extraordinário...
Sofia
Olá
Esta é a Sofia que eu gosto de ler, e gosto de ter como amiga, porque os amigos verdadeiros amam-se com as suas virtudes e com os seus defeitos; E cá estamos para ajudar se fôr preciso ou para aplaudir sempre, sempre.
Mas, aquele final... Há sempre qualquer coisa....
Se vieres ao meu espaço vais gostar do post de hoje.
Beijokas**
lindo!
gande poetisa
Será que a paixão se sacia
na negação que a alimenta? Será que o amor para permanecer tem que fazer sofrer?
Gostei Sofia
Um beijinho
Lindo Sofia... mito bonito. Gosto muito de ler o que escreves, muito mesmo.
Bjs e boa semana
No comments Sof ... apenas
FANTÁSTICO !!!!!!!!!
Poderia ser uma continuação do Pecados, anos mais tarde... A mesma paixão enlouquecedora, a mesma determinação, o mesmo render. Gosto da personagem!
Beijinhos, estás a ficar uma Mestra com as palavras.
Enviar um comentário